![]() Andreia Santos “A adversidade tem o dom de despertar talentos ocultos que na prosperidade teriam ficado adormecidos” Horácio Neste texto pretendo reflectir sobre o problema da superproteção e simultaneamente da importância da frustração no processo educativo de cada um de nós.
A frustração é uma das condições essenciais para o nosso desenvolvimento, tanto ao nível do pensamento, das emoções e do comportamento. À partida esta afirmação pode parecer estranha, porque na realidade tendemos a evitar estar em situações que nos causem situações de frustração. No entanto, quando estamos confortáveis, seguros e não há necessidades que precisam de ser preenchidas, naturalmente não há motivação para procurar novas soluções. Este processo é extremamente importante na educação de uma criança, porque é ainda enquanto crianças que devemos aprender a lidar com a frustração. Muitos pais têm dificuldades em não frustrar os seus filhos, o que por um lado é natural porque lhes causa desconforto. Por outro lado, estão a impedir que os seus filhos tenham vivências inteiras com principio meio e fim. É também natural que as crianças peçam coisas, exijam atenção, façam chantagem, birras, não queiram cumprir regras, chorem, o que torna a tarefa de educar muito exigente. Quando um pai interrompe uma vivência de frustração de um filho (ex: à primeira tentativa de uma criança tentar colocar um brinquedo num lugar e não consegue, os pais vão lá e colocam eles o brinquedo no sitio certo), o que é que acontece? Em primeiro lugar, a criança não viveu a tristeza ou “dor” de não ter conseguido fazer a tarefa como era suposto, o que é extremamente importante para aprendermos desde cedo a estar com emoções que nem sempre são agradáveis mas que são importantes para o desenvolvimento da nossa estrutura psicológica. Em segundo lugar, impediu a criança de experimentar mais vezes e aprender a forma de colocar o brinquedo por si própria. Por último, a criança recebe a mensagem: “sou incapaz de fazer as coisas sozinha”, “sou incompetente”. É claro que os pais não o fazem com essa intenção mas ao superproteger a criança, ao fazer por ela, a dar sempre o que ela quer ou mesmo a ocultar verdades (separações na família, mortes) podem passar a mensagem que elas são mais frágeis e que não aguentam as situações. Nestas situações, os pais ao verem que as crianças estão a ficar aflitas com a situação podem sempre estar ao pé delas e incentivarem-nas a fazer por si próprias, por exemplo: pegar na mão delas e ajudar ou dizer que ela vai ser capaz. A frustração é assim uma forma importante de protecção, que contribui para um adulto com mais capacidade de se autonomizar.
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![]() Joana Fojo Ferreira Só se deprime quem não se deixa entristecer. António Branco Vasco Do meu ponto de vista, a depressão equivale a um processo de desligamento de si próprio e do mundo; simbolicamente é um fechar a porta, um deixar de acreditar, um sentir que não vale mais a pena lutar.
Neste sentido, nas origens da depressão, especialmente a mais debilitante e crónica, tendem a existir experiências dolorosas prolongadas ou muito repetidas, e esforços de resolução dos problemas fracassados, ou respostas frequentes de invalidação e desqualificação dos outros, que deixam a pessoa a sentir-se impotente ou incompetente e muito desesperançada e desamparada. A certa altura, aceder a estas experiências ou memórias dolorosas, sem conseguir recuperar ou mobilizar outras mais positivas e vitalizantes, torna-se demasiado doloroso e angustiante, e é como se se escolhesse então, ainda que de forma inconsciente, deixar de sentir, cortar o contacto consigo e com o mundo, deixar de “viver”. Em terapia, o que procuramos fazer perante estes cenários, é ajudar a pessoa a reabrir-se à experiência, a recuperar o contacto consigo e com o mundo, num ambiente seguro e protector, que favoreça que ela se permita voltar a sentir, e ao mesmo tempo aceder e activar recursos internos ou externos, que a ajudem a dar um sentido mais produtivo e menos incapacitante a estas experiências dolorosas passadas ou presentes. O objectivo é também combater a sensação de desamparo e ajudá-la a perceber que, ainda que não possa apagar o seu passado, não precisa continuar a viver nele no presente e pode construir, mesmo a partir dele, uma narrativa diferente para o seu futuro. Talvez lhe pareça estranha a frase “Só se deprime quem não se deixa entristecer”, mas na realidade, ao permitir-se entristecer, ou sentir qualquer uma das suas emoções mais dolorosas, num ambiente seguro e validante, está a abrir a porta para processar e arrumar as suas experiências dolorosas e integrar na sua vivência emoções e experiências positivas que o ajudam a dar um sentido menos drástico e menos incapacitante às negativas. Não feche a porta a si próprio, permita-se sentir! |
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