![]() Joana Fojo Ferreira Passados o Outono e o Inverno, chegamos à Primavera, estação da renovação.
Recorda-se da libertação do velho no Outono e da introspecção no Inverno? Pois está na hora de voltar a olhar para fora, trazer para fora o que está aí dentro, esta é a estação. O sol e a brisa agradável puxam-nos para sair, voltarmo-nos para o exterior e inspirarmo-nos nas árvores e nas plantas para também nós renascermos e florescermos. Está na hora de servir à mesa o que cozinhou no Inverno, cuidar das suas necessidades, concretizar os seus projectos. Ao contrário do Inverno, estação de questões e reflexões, esta é uma estação de acções e de afirmações. Já deve ter reparado que o meu tom neste texto é também mais afirmativo, mais directivo. Nesta estação, pegue em si próprio e saia para a rua, feche os olhos e sorria a sentir a brisa na face e o calor do sol na pele, abra os braços e espreguice-se, arregace as mangas e ponha cá para fora o que até agora manteve apenas dentro.
E não se esqueça, cuide de si, renove-se, esta é a estação.
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![]() Andreia Santos Este é um tema que eu gosto particularmente e sobre o qual, gostaria de partilhar algumas ideias.
Há pouco tempo li o livro “Aventuras de João Sem Medo” de José Gomes Ferreira, cujo primeiro capítulo ( o Homem sem cabeça) me despertou mais uma vez para esta reflexão. Seguem-se algumas partes: “... da clareira partiam dois caminhos, o dois clássicos de todas as histórias de encantos e prodígios: um asfaltado, cómodo, ladeado de amendoeiras em flor; o outro, pedregoso e eriçado de espinhos, urtigas e urzes... (...) - És a fada dos dois caminhos?... - Bem, bem. Deixa-te de lérias - impacientou-se João Sem Medo. - E, já agora, toma a sério o teu papel de fada e aconselha-me qual dos caminhos devo seguir: o asfaltado ou o dos pedregulhos? - Olha menino - elucidou o contínuo.....o bom caminho conduz à Felicidade. E o mau, à infelicidade... - Vou pelo bom caminho, como é costume, claro - resolveu João Sem Medo, embora desconfiado de tanta facilidade aparente. - O contrário seria idiota e doentio. Entretanto no caminho da Felicidade surge um descabeçado que diz: - Que a paz e a estupidez sejam contigo. Vens preparado para a operação? - Que operação? - interrogou João Sem Medo, suspeitoso. (...) - Ninguém pode seguir o caminho asfaltado que leva à Felicidade Completa sem se sujeitar a este programa bem óbvio. Primeiro: consentir que lhe cortem a cabeça para não pensar, não ter opinião nem criar piolhos ou ideias perigosas. Segundo e último: trazer nos pés e nas mãos correntes de ouro... (...) - Não, nunca. Então prefiro o outro caminho. - Palerma! - lamuriou o guarda ( descabeçado) com os olhos do peito marejados de lágrimas sinceras. Vais passar fome, sofrer dias de terror aflito... Fica a curiosidade para quem quiser saber o que aconteceu ao João Sem Medo. Por agora, gostava de ficar com estas reflexões: parece que para o João Sem Medo foi fácil optar (sim ele escolheu mesmo o outro caminho). Terá sido esta opção uma escolha ou uma decisão? As decisões parecem ser sempre dificeis, o que terá facilitado o processo do nosso personagem? Será o João Sem Medo, um João livre? Relativamente à primeira questão, parece se tratar de uma decisão. Antes de uma decisão houve várias escolhas (caminhos), de certa forma a decisão é a ponte entre o desejo (de entre as escolhas) e a ação. Em termos existenciais, a dificuldade em tomarmos decisões surge pelo facto de estarmos a eliminar possibilidades (de sermos, de estarmos, de fazermos), ou seja, em última análise a decisão é uma limitação da nossa experiência. Perdemos coisas e é difícil aceitarmos as perdas, daí os sintomas de ansiedade e culpa associados a estas situações. Por outro lado, a decisão também nos força à aceitação de uma responsabilidade pessoal. Em termos gerais, a grande diferença entre escolha e decisão reside no facto de, enquanto que a escolha implica liberdade, a decisão implica uma seleção. E terá o João Sem Medo se sentido ansioso? Provavelmente (mesmo com este nome), colocando esta hipótese parece ainda assim que a dúvida não era uma realidade. Porque será? De certo modo, porque o João Sem Medo sabia o que queria, na realidade sabia aquilo que para ele fazia sentido ser a sua existência, mesmo que tal implicasse dificuldades e perdas como a “Felicidade Completa”. É importante saber onde estamos ( quem somos) para decidir para onde queremos ir. Eu costumo dizer, muitas vezes relacionada com o meu trabalho como psicoterapeuta: a partir do momento em que temos consciência, tudo o resto é escolha. Considero que conhecer a realidade (a nossa e a dos outros) aumenta o nosso leque de opções,ou seja aumentamos as nossas escolhas, que podem ou não traduzirem-se em decisões. Ter consciência é aperceber-nos das implicações que cada caminho tem para nós, mas antes de iniciar caminho não saberemos qual o melhor a seguir. Por vezes, tentamos controlar esta situação, procurando as melhores explicações ou argumentos. Experimentem arranjar um bom argumento para a escolha de um caminho e vejam o que acontece a seguir, não tardará, para vocês próprios ou outros, arranjarem um tão bom argumento a favor da escolha do caminho ao lado. Quanto à interrogação se o nosso João é ou não livre, a minha perceção é de que quanto mais cosnciência temos daquilo que somos e queremos, mais escolhas temos e isso aumenta a nossa sensação de liberdade. No caso do João Sem Medo, ele sabia que não queria viver uma vida sem cabeça (sem pensar, sem piolhos, sem ideias perigosas), neste sentido considero-o “livre”, decidiu em consonância com o que lhe fazia sentido, mesmo que para o cabeçudo essa não tivesse sido a melhor decisão. Mas sobre liberdade será um outro texto... Entre caminhos, nenhum caminho será fácil, mas mais dificil se irá tornar se não nos fizer sentido e nos sentirmos incongruentes. Um obrigado especial à pessoa que me recomendou este livro! |
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