Joana Fojo Ferreira Para nos inscrevermos numa iniciativa de desenvolvimento pessoal, seja um grupo seja um workshop, queremos antes de mais perceber o que isso é.
Idealmente, enquanto alguém que quer lançar iniciativas deste género, eu deveria ser capaz de apresentar de forma sucinta e motivadora, em jeito de pitch, o que é que é isto de desenvolvimento pessoal e porque é que vale a pena. Mas quando tento, sai uma coisa complexa, muito pouco clara, que vai não vai deixa as pessoas mais assustadas do que motivadas. Há forças estranhas em jogo nesta minha dificuldade, imediatamente me surge que eu sou melhor a desenvolver ideias e elaborar sobre elas do que em resumi-las, mas depois percebo que não é bem verdade, já fui congratulada ao longo da vida pela minha capacidade de síntese e outras vezes criticada por esta mesma síntese. Pelo que talvez não seja por aqui. Depois surge-me a justificação de que desenvolvimento pessoal não se explica, experiencia-se. E se por um lado tendo a achar que é possível e até importante pôr palavras nas nossas experiências, faz-me imenso sentido ao mesmo tempo que desenvolvimento pessoal não se explique propriamente. Todas as minhas experiências de desenvolvimento pessoal foram vividas, e mesmo os momentos de reflexão e introspeção foram saboreados enquanto experiência, acompanhados de sensações no corpo que transformaram a coisa em muito mais do que um produto mental. É engraçado que esta ideia de sentir no corpo mais do que meramente pensar, que me é muito quentinha e motivadora, é o que assusta várias pessoas, talvez como se temessem ser engolidas pelo seu corpo, ou perderem o controlo, talvez seja mais por aqui. E aqui penso “não, mas eu nisto posso esclarecê-las e tranquilizá-las, já que eu própria tive imenso medo de perder o controlo ao juntar um corpo que sente e se expressa à minha hiper-investida cabeça”. É que isto de nos permitirmos sentir realmente assusta, tudo o que é novo e não familiar assusta. Mas também é verdade que quando reconhecemos que temos um corpo ligado à cabeça, ou melhor, que a própria cabeça faz parte de um corpo, o susto transforma-se em potencialidade. Viver com uma cabeça hiper-investida é como andar ao pé-coxinho para proteger uma segunda perna que em tempos se partiu. Algures no tempo foi preciso protegê-la para sarar, e temos medo de nos magoarmos e piorarmos se a voltarmos a usar, mas a certa altura vale a pena com jeitinho e gradualmente reintegrá-la como membro ativo do corpo, porque podemos viver eternamente ao pé-coxinho mas aumentamos muito os nossos graus de liberdade se possibilitarmos que as duas se articulem e damos suporte vitalizante à primeira perna, que sozinha se pesa e se desgasta muito mais. Corpo e cabeça é isto mesmo, o corpo assusta-nos porque sente muito as coisas, deixa-nos mais em contacto com a nossa vulnerabilidade, temos medo de nos magoar se o pusermos mais em ação; o que nos esquecemos de contemplar é que aproveitá-lo mais aumenta o leque de possibilidades no mundo e ajuda a cabeça a exercer melhor a sua função, é muito mais enriquecedor. É isto que se ganha com desenvolvimento pessoal, reconhecimento de todas as nossas partes e melhor uso de cada uma delas e da articulação entre todas. Já vai longo, eu sei, mas aos que ficaram suficientemente motivados para chegar aqui, deixem-me acrescentar que creio que a minha dificuldade em explicar desenvolvimento pessoal prende-se também com o facto de ser um processo, e não uma conquista estática, e muito idiossincrático, o ritmo e o que se desenvolve é diferente para cada um. Experiências de desenvolvimento pessoal abrem portas, cada um vive e descobre coisas diferentes em cada uma e explora as portas seguintes a partir da experiência com as anteriores. A troca e a partilha em grupo por sua vez abre mais portas e convida a mais possibilidades de as abrir e explorar. O fator grupo também tende a assustar mas novamente é a mesma ideia, o que começa por assustar acaba por facilitar. Portanto, o que é que é desenvolvimento pessoal? É auto-descoberta, reconhecimento de como funcionamos, o que são as nossas potencialidades e os nossos desafios. É experimentarmo-nos em contacto com os outros, perceber o que gostamos e não gostamos, o que nos é mais fácil e mais difícil. É olharmos e compreendermos o que é antigo em nós e disponibilizarmo-nos para experimentar o que pode ser novo ou vivido diferente. É para todos? Um lado meu gostava que fosse, há potencial enriquecedor e transformador para todos, mas nem todos nos identificamos com o mesmo registo, nem todos gostamos do mesmo tipo de experiências, ou nem todos estamos num período das nossas vidas em que faça sentido. Para os que se entusiasmam com este tipo de desafios, no fim vão encontrar muitas definições de desenvolvimento pessoal que vos vão fazer muito sentido e ser muito fáceis de compreender, depois de se darem a oportunidade de o viver.
0 Comments
![]() Andreia Silva Santos Agora findo aquele período de descanso e revitalização, que geralmente são as férias, há um conjunto de ideias e atividades que gostaríamos de ter feito durante o ano e que não fizemos pela tão conhecida “falta de tempo” e que durante as férias voltou a vontade de as colocar em prática, ao mesmo tempo que abraçamos o regresso ao trabalho já com tantas tarefas e com um certa sensação de já ter tantas coisas para dar conta. Nesta fase, onde a ideia e a realidade ainda não estão ajustadas, é importante recordar uma noção da gestão de tempo e energia tão conhecida - o estabelecimento de prioridades. Já conhece a história da forma certa de encher o jarro? Deixamos no fim, uma versão da história completa. Imagine que tem um jarro vazio e um conjunto de pedras grandes, seixos, gravilha e areia. Agora, imagine que para encher o jarro, vai colocando primeiro a areia e a gravilha e só no fim, as pedras maiores... O que acham que acontece? Será que vai caber tudo e de que forma? ... E se colocássemos as pedras grandes primeiro? E se o jarro fosse a representação do tempo que tenho disponível na minha vida? Quais seriam as minhas pedras grandes, seixos, gravilha e areia. Estou satisfeito com a forma como tenho enchido o meu jarro? Manter o foco naquilo que é importante para nós e simultaneamente cuidarmos disso, implica em primeiro lugar definir quais são as nossas pedras grandes. Depois de definidas, é importante que as coloquemos logo no "nosso jarro" (estabelecer dias e horas para as realizar na agenda) e que se defina um conjunto de ideias e atividades concretas e realistas que ajudem a cuidar daquilo que é realmente importante. Se passado algum tempo, a areia e a gravilha continuar a ocupar primeiramente o jarro, talvez essa possa ser uma oportunidade para repensar e recolocar as todo o conjunto de pedras. Muitas vezes ficamos presos àquilo que não fizemos e devíamos ter feito em vez de olharmos de forma livre e não julgadora: porque é que continuamente não ando a fazer algo que realmente é importante para mim? Deixamos então uma das versões completas da forma de encher o jarro: Um dia, um velho professor da Escola Nacional de Administração de França foi convidado para fazer uma apresentação sobre planeamento eficaz do tempo a um grupo de administradores de empresas norte americanas. O tempo que lhe foi atribuído foi muito breve: o professor tinha apenas uma hora para fazer passar a sua mensagem. Primeiro, o professor observou pausadamente os vários elementos deste grupo de elite (que estavam prontos a tomar notas de tudo o que o perito lhes quisesse ensinar). Seguidamente disse: “Vamos fazer uma pequena experiência.” O professor tirou um enorme jarro de debaixo da secretária que o separava dos alunos e colocou-o com cuidado à sua frente. Depois tirou cerca de doze grandes seixos, aproximadamente do tamanho de uma bola de ténis, e colocou-os cautelosamente, um após o outro, dentro do jarro. Quando o jarro estava cheio até acima e não havia espaço para mais seixos, olhou para cima, erguendo lentamente a cabeça, e perguntou aos seus alunos: “Este jarro está cheio?” E todos lhe responderam: “Sim...” Ele esperou alguns segundos antes de perguntar: “De certeza?” Então, desapareceu novamente por trás da sua secretária para reaparecer com um frasco cheio de gravilha. Despejou a gravilha sobre os seixos e em seguida agitou um pouco o jarro. A gravilha espalhou-se por entre os seixos até ao fundo do jarro. O professor olhou novamente a sua audiência e perguntou: “Este jarro está cheio?” Desta vez os alunos mais espertos começaram a entender. Um deles respondeu: “Provavelmente não.” “Certo!” respondeu o professor. Mais uma vez, desapareceu por trás da secretária e reapareceu com um balde de areia. Despejou a areia no jarro de forma que esta encheu o espaço entre os seixos e a gravilha. Perguntou novamente: “Este jarro está cheio?” Desta vez, os alunos mais espertos responderam sem hesitação e em coro: “Não!” “Certo!” disse o professor. E tal como os seus alunos mais brilhantes já esperavam, ele pegou numa garrafa de água que tinha sob a secretária e encheu o jarro até acima. Então, olhou a audiência e perguntou: “Qual é a grande verdade que esta experiência nos ensina?” O mais atrevido dos seus alunos – muito esperto – pensou no tema da apresentação e respondeu: “Ensina-nos que mesmo quando pensamos que a nossa agenda está completamente cheia, podemos sempre encaixar um encontro ou outras coisas a fazer.” “Não,” disse o professor, “não é essa a lição. A grande verdade por trás desta experiência é a seguinte: se não puserem primeiro os seixos grandes no jarro, não será possível que todos caibam lá dentro mais tarde.” Seguiu-se um momento de silêncio. Todos se tinham apercebido de que o professor tinha razão. Seguidamente este perguntou: “Quais são os grandes seixos da vossa vida? A vossa saúde? A vossa família? Os amigos? Tornar realidade os vossos sonhos? Fazer o que gostam mais? Aprender? Defender uma causa? Descontrair? Ter tempo só para vocês? Ou... algo completamente diferente?” “O que é realmente importante é pôr primeiro os seixos grandes da vossa vida. Caso contrário, não tomarão conta da vossa vida. Se derem primeiro atenção às coisas mais insignificantes (a gravilha, a areia...), encherão a vossa vida com coisas insignificantes e não terão tempo para as coisas realmente importantes." |
AutorasAndreia Santos Receba cada novo post no seu e-mail subscrevendo a nossa mailing list
|