![]() Joana Fojo Ferreira Sim, é verdade, a versão original é “contra factos não há argumentos”; no entanto, a nossa mente é tão poderosa que, por lógico que seja pensar que contra factos não há argumentos, os argumentos que a nossa mente cria tendem a ser difíceis de combater por mais factos que lhe peçamos para considerar.
Se não vejamos, quantas vezes fazemos interpretações das motivações dos outros, por exemplo de não gostarem verdadeiramente de nós, para quando eles explicam o motivo da ausência ou da indisponibilidade, nós acharmos mesmo assim que estão só a ser simpáticos e por mais que neguem no fundo não gostam de nós. Ou por exemplo, quando surge um boato sobre alguém, mesmo que venha a ser desmentido, ficamos sempre com a pulga atrás da orelha e tendemos a ter dificuldade em verdadeiramente voltar a confiar. E ainda outras vezes, no que toca a nós próprios, criamos ideias sobre quem somos e como funcionamos, e quando nos indicam uma característica diferente que vêem em nós, tendemos a defender-nos e ter dificuldade em nos revermos na característica que nos estão a atribuir. O que é que se passa aqui: entre várias razões possíveis para esta dificuldade da mente em desconfirmar ideias pré-concebidas, uma é que temos uma história de desenvolvimento que molda a visão que temos do mundo e das coisas, e que influencia a interpretação que fazemos dos factos. Nós não somos tábuas rasas que se limitam a receber estímulos do exterior e a responder em conformidade e apenas ao estímulo específico, as nossas experiências passadas, as nossas ideias e opiniões, as nossas inseguranças, as nossas peculiaridades, contribuem para fazermos associações de coisas e ideias, de forma que, quando estamos a responder a um estímulo, não estamos apenas a responder a esse estímulo mas a toda uma rede de associações a ele, sejam elas ligações mais próximas ou mais distais, façam elas mais ou menos sentido face ao estímulo específico apresentado. Qual é o antídoto para este mal que nos assola: em primeiro lugar é importante clarificar que não há uma receita única nem nenhuma só por si suficientemente eficaz, no entanto, há alguns cuidados que podemos ter que poderão favorecer cairmos menos vezes neste erro. É importante procurarmos manter um espírito de abertura à informação que recebemos do exterior, e permitirmo-nos verdadeiramente questionar possibilidades alternativas às nossas percepções, aos nossos “argumentos”, ainda que questionando, naturalmente, as motivações e os argumentos dos outros também. E por outro lado, é importante não desconsiderar a importância de “dormir sobre o assunto”, disponibilizarmo-nos para voltar a pensar sobre a questão mais tarde, menos a quente, menos defensivos, com as ideias mais claras e a mente mais aberta. No fundo é importante estarmos abertos a (re)construirmo-nos ou (re)descobrirmo-nos a cada momento, cientes que isso não muda a nossa essência e o nosso valor, mas pelo contrário permite tornarmo-nos mais conscientes e mais coerentes connosco próprios.
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![]() Andreia Santos “ A autonomia é o estado de integração em que uma pessoa se encontra em plena concordância com os seus sentimentos e as suas necessidades”
Arno Gruen Quando li esta definição de autonomia, o primeiro impacto foi: aqui está o ponto de partida para uma reflexão diferente sobre aquilo que andamos todos à procura. A principal diferença desta definição para outras, é que esta não contém a noção de afirmação da nossa independência, que está muitas vezes relacionada com a procura de poder (posse de coisas materiais ou de seres). É muito frequente, as pessoas afirmarem: “aquilo que mais quero é ser autónomo!”. Quando se explora o que é esta necessidade, estão quase sempre presentes afirmações como: “ter casa própria, sair da casa dos meus pais”, “ser bem-sucedido e ter um bom emprego”, “não depender de ninguém!”, “fazer o que quero!”. Quando afirmamos que “fazer o que quero” ou que “não queremos depender de ninguém”, será que não estamos a dizer que na realidade, queremos ter e sentir a liberdade para sermos nós próprios!?. Na maior parte das vezes, há uma falsa sensação de liberdade, porque sentimos que temos de provarmos constantemente o nosso valor aos outros (aos pais, aos amigos e colegas). A questão está em que “O esforço por sermos aceites pelo que é esperado sermos e fazermos torna-se um mecanismo para iludirmos a ansiedade interior. À medida que o sermos aprovados se torna o sentido da nossa existência, renunciamos à possibilidade de sermos amados pelo que somos realmente.” (Arno Gruen) No entanto, temos as outras pessoas, as que já “são autónomas” e que, aos olhos delas e dos outros não lhes falta nada; têm o bom emprego, a casa e uma relação e que muitas vezes chegam à terapia com a questão: “Não percebo porque é que me sinto assim, não tenho do que me queixar, tenho tudo o queria!”. Afinal, o que se está a passar com estas pessoas?. Ao que parece, há qualquer coisa que faz falta e que não conseguimos com a nossa independência mas sim com a capacidade de aprenderemos a identificar as nossas necessidades e as nossas motivações. É claro que este processo de adaptação à cultura vigente na nossa sociedade é difícil de combater, até porque somos educados desde muito cedo. Sobretudo, gostaria que cada um, reflectisse o que procura e precisa quando refere que só se sentirá autónomo quando tiver determinada coisa. Para finalizar, deixo o desafio: Afinal, o que é que o faz sentir verdadeiramente livre? |
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