![]() Andreia Santos Este não é um texto sobre relações amorosas, mas sim, sobre relações em geral. Relacionarmo-nos é uma coisa natural, o que não significa que não haja desafios com os quais temos de lidar. Um desses desafios está relacionado com a noção de espaço pessoal (ou bolha pessoal). As relações têm níveis, isto é, podem evoluir de um nível em que o espaço pessoal de cada um não se toca, para um nível onde não há distinção entre o espaço pessoal de cada um. Na nossa vida, existem relações que estão em diferentes níveis e isso é importante, no entanto, as relações mais significativas e que contribuem mais para o nosso bem-estar são aquelas onde os espaços pessoais do Eu e do Outro se interligam. Frequentemente vejo as pessoas a existirem pouco na realidade do outro, tomando como exemplo: “não o vou incomodar com as minhas coisas”, “ele tem mais do que fazer, por isso não o vou convidar para ir a algum lado”, “na minha vida não acontece nada de especial, por isso não tenho nada para dizer”. É claro, que muitas vezes, trata-se mais de uma questão intrapessoal, em que há uma desvalorização do próprio e é isso que vai determinar a relação que estabelece com o outro. Contudo, muitas vezes o outro quer que ele o convide e que partilhe a sua vida, mesmo que possam ser coisas básicas, da vivência do dia-a-dia. No extremo oposto, temos as pessoas que fundem os seus espaços pessoais, tudo nas vidas depende do outro, das suas opiniões, decisões, saídas com outras pessoas. Desta forma, faz sentido falarmos na distinção entre proximidade e intimidade. A capacidade para estarmos próximos de alguém está diretamente relacionada com a diferenciação do indivíduo, podem fazer o exercício de responder à seguinte questão: Como é que eu me defino na ausência de relação? Por outro lado, a intimidade está relacionada com o equilíbrio poder e vulnerabilidade e envolve a consciência de que sou separado do outro com partes que podem ser partilhadas. A palavra partilha torna-se fundamental neste processo, pois é o nível de partilha que também define o nível de relação. Eu posso partilhar o meu descontentamento com o tempo de chuva, o resultado do jogo de futebol, dar a minha opinião sobre um assunto, as minhas emoções sobre a forma como alguém me fez sentir ou mesmo vulnerabilizar-me ao lado de alguém. Uma coisa importante é não confundir partilha com divisão, tal como dizia uma colega no outro dia, a partilha gera abundância e a divisão simplesmente escassez. A partilha é mais do que simplesmente uma divisão do tipo cinquenta cinquenta, em relação às tarefas, dinheiro, ideias, número de vezes que se teve a iniciativa de fazer algo. Tendemos a estabelecer diferentes tipos de relações com diferentes pessoas e diferentes contextos, embora cada um de nós tenha uma tendência para determinado estilo de funcionamento. Existem alguns estilos de funcionamento que podem causar mais dificuldades no bem-estar e nos objetivos interpessoais, são eles: o intrusivo, o evitante e o idealizante. O intrusivo é aquele que invade o espaço do outro, tende a puxar a intimidade e não a proximidade e isso assusta o outro. O evitante é aquele que se protege demais, ou seja não existe no espaço do outro e o idealizante, que apenas procura aquilo que idealizou e não está disponível para aquilo que surge. Para finalizar, é necessário um equilíbrio entre aquilo que Eu e o Outro precisamos. De um modo geral, esse equilíbrio vem da capacidade de diferenciação, da existência de reciprocidade, da proximidade, da intimidade, da partilha e fundamentalmente de um encontro daquilo que eu tenho e estou disposto a dar e o que quero e preciso receber.
1 Comment
Pyter
6/4/2018 06:08:31 pm
Muito interessante!!!!
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