![]() Andreia Santos Friozinho na barriga, pernas a tremer, olhos bem abertos, coração a bater mais forte…, sentir-me mais ansioso que o costume, estar alerta… é MEDO. De quê? “Não sei” ; “Quero que desapareça!”, “Quero deixá-lo de sentir”. Para que serve o medo se é desagradável? Como é que eu faço para deixar de sentir medo?
Para reflectir sobre este tema, o medo, inspirei-me num livro, que aliás, ao que parece é para crianças (não deixem de ler por isso!): “O pequeno livro dos medos” de Sérgio Godinho. A primeira coisa a fazer é perceber então, o que significa o medo, assim surge a seguinte definição: ”sentimento desagradável que excita em nós, aquilo que parece perigoso, ameaçador, sobrenatural”. Duas ideias importantes nesta definição: a primeira, de que provoca em nós uma sensação de desconforto e desagrado mas simultaneamente parece ter uma função essencial na nossa adaptação porque nos põe alerta para os perigos à nossa volta. Mas afinal temos medo de quê? Temos medo de animais perigosos, de situações reais de perigo mas também temos medo de algo desconhecido, algo difuso. É este medo, que não conhecemos a sua forma, que está dentro de nós e nos acompanha, que causa a maior sensação de desconforto, tal como diz Sérgio Godinho: ”A ideia de um bicho desconhecido, nunca sabemos o que esperar dele. “, pois se não conhecemos não podemos ter controlo sobre ele. Depois de várias tentativas de eliminar o medo (que será o primeiro erro em lidar com o medo), o personagem do livro (o João) decide ir ao sótão e enfrentar “o bicho desconhecido”, quando o descobriu, e para seu espanto era só um bicho pequeno. Não deixa de ser curioso ter tanto medo de um bicho que é mais pequeno do que nós, o problema está que, antes de olharmos para os nossos medos eles parecem quase sempre maiores do que nós. Faça o exercício de pensar de que tamanho vê os seus medos. E como é que o medo reagiu ao João? “O medo, embora não tenha tido medo, olhou para o João com interesse. E o João olhou para o medo também. Ficaram a olhar de frente um para o outro, como se fossem dois velhos conhecidos que nunca se tinham visto. “. Então o João explicou ao medo porque tinha medo dele: ”…E eu só tenho medo de ti, porque penso que tu não fazes parte de mim. Mas tu fazes parte de mim, como os meus ossos e os meus pulmões. ….De maneira que, olha, fica cá dentro e encontra um canto para sentares. Mas cuidado: de cada vez que começares a abusar, vai haver guerra. Vou saltar, correr, espernear, lutar, falar, responder, perguntar, ou, muito simplesmente, pensar”. Tal como o João fez ao convidar o medo para arranjar um canto para se sentar, também podemos pensar que os nossos medos fazem parte de nós, eles não se vão embora, não são assim tão maiores ou mais fortes que nós. Assim, podemos convidá-los a sentarem-se num sítio onde sabemos que ele está e caso incomode demasiado, fazer qualquer coisa com ele, porque afinal já o olhámos de frente e sabemos o que esperar dele.
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